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Exportações de milho e infraestrutura

Estamos nos encaminhando para o final do ano de 2012, ano em que se verificaram as maiores exportações de milho da nossa história. Até o mês de novembro, já foram exportadas cerca de 17 milhões de toneladas, sendo que cerca de 15 milhões foram exportadas nos últimos cinco meses. A quantidade exportada de julho até novembro, por si só, é maior do que qualquer exportação anual de milho pelo Brasil. A cada mês, foram quebrados recordes de quantidades de milho embarcadas, atingindo 3,9 milhões de toneladas no mês de novembro.

Estes números quebram paradigmas com relação ao mercado de milho no Brasil. Para começar, em linha com os recordes de exportação, nunca produzimos tanto milho em um ano agrícola; isto apesar da quebra da safra de verão no Sul do Brasil (ou, quem sabe, por causa desta quebra, que forneceu sinalizações de preços para o plantio de uma grande área com milho na nossa antiga “safrinha”). Por outro lado, existe uma constante preocupação com a capacidade de nossa infraestrutura de transporte em movimentar tão grande quantidade de milho (originado principalmente do estado do Mato Grosso) até os portos e da capacidade das instalações portuárias em embarcar esta quantidade de produto.


Com relação ao primeiro item, a organização da produção do milho em duas épocas facilitou o gerenciamento do abastecimento interno, pois duas frustrações em um mesmo ano, embora possíveis, são menos prováveis e seus efeitos reduzidos em relação a uma frustração climática concentrada em um plantio no verão, como era o caso brasileiro. A segunda safra funciona como uma alternativa de segurança para possíveis falhas no plantio do verão, com a possibilidade de ajuste na área plantada para as compensações necessárias. Com todos os problemas representados pelo eventual excesso de produção em determinados anos (lembre-se que a segunda época é um plantio de risco, para mais ou para menos), é melhor sobrar do que faltar. Nestas condições, as exportações funcionam basicamente para resolver os “problemas” do excesso de produção e servem para manter os preços internos em um patamar que incentive os próximos plantios que irão garantir o abastecimento. A este respeito, não custa lembrar uma frase atribuída a Juscelino Kubistchek “...a energia mais cara é a que o país não dispõe...”. Isto se aplica também ao milho.


Com relação ao segundo item, são correntes no Brasil as considerações sobre os nossos problemas com relação à nossa infraestrutura de transporte e portuária. Por outro lado, embora estas condições se constituam entraves (e, como tais, devem ser resolvidos), de forma alguma se constituem empecilho para o crescimento gradativo, como o que se verifica o desenvolvimento agrícola do Brasil. Todo o avanço da agricultura para o Centro-Oeste foi realizado, apesar destas condições, que foram gradativamente se adequando às necessidades criadas. Ao mesmo tempo em que as velhas necessidades são resolvidas, outras são criadas e serão resolvidas. As mais recentes intervenções neste âmbito são a consolidação da rodovia Cuiabá-Santarém e a operacionalização da ferrovia Norte-Sul. Embora outros entraves permaneçam e necessidades estejam sendo criadas, estas melhorias abrem possibilidades de transporte e de acesso a portos que viabilizam extensas áreas do Norte do Mato Grosso, do Vale do Araguaia, de todo o estado do Tocantins e dos cerrados do Piauí e do Maranhão. Este espaço geográfico se constitui na nova fronteira agrícola do Brasil, que se desenvolve na medida em que antigas fronteiras se consolidam.


O ano de 2012 derrubou algumas crenças acerca das limitações logísticas para exportação de grãos. O resultado do comércio externo no ano mostrou que ainda é possível aproveitar a infraestrutura existente e exportar quantidades expressivas de milho e de soja. Considerando-se os portos tradicionais de escoamento de milho (Santos, Paranaguá e São Francisco do Sul, por onde saiu 84% do milho exportado até novembro), nota-se um crescimento da quantidade de milho movimentada (6 milhões de toneladas em 2009; 8,8 milhões em 2010; 7,7 milhões em 2011; e 14 milhões até novembro de 2012), sem que ocorra uma redução da quantidade de soja exportada por estes portos (16 milhões de toneladas em 2009; 17 milhões em 2010; 19 milhões em 2011 e 20 milhões até novembro de 2012), o que indica que existe uma capacidade de operação que ainda pode ser utilizada e que evolui continuamente, assim como as necessidades evoluem também gradativamente.


Mais interessante é a busca por alternativas para embarque de milho que vêm sendo tentadas. Embora as exportações de milho sejam muito concentradas nestes três portos (provavelmente por facilidade de transporte das principais regiões exportadoras), neste ano se verificaram exportações de mais de dois milhões de toneladas de milho por outros portos, inclusive pelo porto de Ilhéus (uma novidade, por onde saíram mais de 200 mil toneladas).


Longe de se conformar com a situação da infraestrutura brasileira para escoamento dos nossos principais produtos agrícolas exportados, temos que considerar que, assim como se verifica uma constante mudança nas condições e nos locais de produção agrícola no Brasil (derivada do desenvolvimento constante de tecnologias que permitem aproveitar as oportunidades que surgem), esta infraestrutura sempre estará a reboque dos acontecimentos. Esta é nossa dívida para com os pioneiros que estenderam as fronteiras e justificaram a instalação de grande parte da infraestrutura existente em nosso país.

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